Fuçando na maravilhosa Biblioteca da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da USP, dei por conta do livro
“Ressurgimento da Língua Hebraica”, uma coletânea de estudos de proeminentes
filólogos e especialistas, do qual extrair alguns enxertos de autoria de
Raphael Sappan, professor de Língua Hebraica no Instituto Universitário
de Haifa, texto este que aborda a gíria e os empréstimos linguísticos no contexto
da Língua de Israel. Escreveu ele: “Qualquer principiante no estudo do hebraico
pode distinguir imediatamente os termos de gíria que adquiriram popularidade e
circulação na língua, tais como tembel,
para “louco” ou “simplório”, hatikha
(literalmente, “pedaço”), para “menina bonita”, herbon, para “desapontamento” ou “fracasso”, mapsut (do árabe), para “contente” ou “satisfeito consigo mesmo”, pantsher (sic, mas se trata, na verdade,
do inglês “puncture”), para “infortúnio inesperado”, lebalef, para “enganar, trapacear” (derivado do inglês “to bluff”)
e olami (literalmente, “mundial” ou
“mundialmente famoso”), para “excelente” ou superior”. E, no que concerne à
influência estrangeira no processo de formação das gírias no idioma hebraico, escreve
ainda o professor: "Apesar de tudo, não se pode negar que o número de palavras
estrangeiras no vocabulário da gíria israelense ainda é proporcionalmente maior
do que em qualquer outra língua, e isto ocorreu principalmente no período
inicial de restauração do hebraico como língua falada, quando tais termos e
expressões constituíam a maioria. Há trinta anos, Daniel Persky, provavelmente
o primeiro estudioso a pensar num estudo da gíria hebraica em evolução,
observou que “sempre que discernimos uma certa vivacidade popular, aqui e ali,
no uso de termos pungentes ou humorísticos, podemos ter certeza de que nos
deparamos com enxertos estrangeiros”. Deve-se ter em mente que a referência que
aqui se faz não se dirige somente ao que se toma emprestado de outras línguas,
mas também ao que se pode chamar de decalques (isto é, palavras modeladas de
maneira mais ou menos próxima às formas estrangeiras mas que consistem de
material da própria língua em que são criadas). Também nesta área a gíria
hebraica se caracteriza pela adição de sufixos estrangeiros, sufixos
estrangeiros, especialmente ist
(como shekemist - empregado numa
cantina (shekern) militar; por sua
vez a palavra shekem formou-se das
iniciais do termo usado no Exército Israelense Sherut Kantinot uMis’adot,
isto é, “Serviço de Cantina e Restaurante”) ou nik (como em jobnik “aquele
que tem bom emprego”) e tchik
(sufixo diminutivo russo), como em katantcik - “muito pequeno” ou “criancinha”... Esta
transformação nos “valores da gíria” - por assim dizer - é mais evidente na
gíria do Exército Israelense, a qual cria expressões coloquiais cheias de
vivacidade e de fôrça. Os exemplos que se seguem, todos eles forjados nos
últimos anos, dão uma ideia da
tendência hebraizante da moderna gíria israelense: basar tari (literalmente, “carne fresca”): recrutas; dapar, dapar efes -termo
depreciativo que significa inepto, incompetente; hishkhil (literalmente,
“enfiar” ou “abrir roscas”): desfechar um golpe ao inimigo; kadur toran (literalmente, “bala
de serviço”): bala “com endereço
certo”; Hitqapel (literalinente, “juntar, arrumar”): pronto para a fuga; Lasim et misehu al hakavenet (literalmente, “fixar os olhos em alguém”): olhar com suspeita ou com hostilidade para
alguém; tafas shalva
(literalmente, repouso “agarrado”): furtar-se aos exercícios ou tarefas militares.
É isso!
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