29 de out. de 2012

As Escolas Literárias: o “Humanismo”


A palavra humanismo vem do latim humanismus, pelo francês humanisme. Fazendo uso do célebre sofista Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”. O humanismo, pois, marca a transição do teocentrismo para antropocentrismo. A época do Humanismo inicia-se em 1418, quando D. Duarte nomeia Fernão Lopes para as funções de Guarda-Mor da Torre do Tombo, e termina em 1527, quando Sá de Miranda, retornando da Itália, inicia em Portugal a campanha em prol da cultura clássica. No seu decurso, em que se opera a implantação das idéias humanísticas, cultivam-se a historiografia, a prosa doutrinária, a poesia, o teatro e a novela de cavalaria: Amadis de Gaula (Massaud Moisés: “A Literatura Portuguesa através dos textos”). A Igreja vai, aos poucos, perdendo seu poder, agravado pelo surgimento de uma divisão interna que leva à existência de dois papas, um França e outro na Itália. Com isso, o teocentrismo e a religiosidade, marcantes na Idade Média, começam a decrescer. O progresso, as navegações e o predomínio do poder econômico sobre o status da nobreza fazem com que o homem se descubra como senhor de sua própria vida e não como mero reflexo de Deus. Esta visão antropocêntrica (o homem como centro do universo) culmina com o aparecimento do Renascimento, na busca dos ideais clássicos como forma de recuperar a independência do espírito humano (Maria da Conceição Castro: “Língua e Literatura”). A religiosidade é grande, mas o teocentrismo perde sua força. À medida que a consciência do que o homem é capaz de fazer e a cultura se ampliam, a vida começa a ser justificada pela aço do homem e não pela ação divina. É o Humanismo. As invenções, o comércio, o contato menos difícil com o restante do mundo ou mesmo entre regiões. e a convivência de valores antagônicos fazem desse um período de transição entre a decadência da Idade Média e o nascer de um novo mundo. Redescobre-se a cultura dos gregos. essencialmente humanista, surgindo o chamado Renascimento (Paschoalin e Spadoto: “Literatura, Gramática e Redação”). Dentre os autores inseridos na escola Humanista, destaca-se Gil Vicente e seu teatro. Embora freqüentador da corte, Gil Vicente é um artista profundamente enraizado nas tradições populares. Em suas peças vemos desfilar toda a galeria de tipos humanos da sociedade portuguesa, de reis a camponeses, de princesas a alcoviteiras. A poesia popular e os costumes folclóricos também são elementos de que se valeu Gil Vicente para a composição de seu teatro. A linguagem rica e variada das personagens, de acordo com sua origem e posição social, é outro aspecto importante da arte vicentina. Aliás, a riqueza e a vivacidade do diálogo são a sua maior contribuição para o estabelecimento de um teatro literário português, bem distante das rústicas encenações de então. O uso do verso não tomou artificial a linguagem de suas peças. Sabendo desenvolver com muita arte e inteligência as potencialidades da língua portuguesa (e castelhana), Gil Vicente explora o trocadilho, os ditos populares, utiliza-se de falares regionais, aproveita (como trovador que foi) a beleza da linguagem das cantigas e a suavidade dos hinos religiosos (Douglas Tufano: “Estudos de Língua e Literatura”). O teatro vicentino traz inovações à dramaturgia. Dentre elas, a fundamental é em relação ao tema. Gil Vicente traz ao palco o homem de seu tempo e em todas as suas condições, do camponês ao papa, do cigano ao judeu, do sapateiro ao príncipe, do médico e o clérigo ao corregedor e ao fidalgo, da alcoviteira à mulher predestinada à maternidade. De cada um, Gil Vicente fixa um retrato, pondo em relevo os vícios da época: ridiculariza a imperícia dos médicos (físicos) na Farsa dos físicos; as práticas da feitiçaria, no Auto das fadas; a bazófia nobiliárquica, na Comédia sobre a cidade de Coimbra, na Farsa do escudeiro e na Farsa dos almocreves; o relaxamento dos costumes clericais, no Clérigo da Beira, no Auto da barca do inferno, na Farsa de Inês Pereira; a simonia,  no Auto da feira e na Barca da glória; a corrupção no seio da família, no Auto da Índia; a nobreza de viver na sua fatuidade e à custa do trabalho alheio, na Farsa dos almocreves; etc. (William Roberto Cereja e Thereza A. C. Magalhães: “Português: Linguagens”).

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É isso!

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