A palavra humanismo
vem do latim humanismus, pelo francês
humanisme. Fazendo uso do célebre sofista Protágoras: “O
homem é a medida de todas as coisas”. O humanismo, pois, marca a transição do
teocentrismo para antropocentrismo. A época do Humanismo inicia-se em 1418,
quando D. Duarte nomeia Fernão Lopes para as funções de Guarda-Mor da Torre do
Tombo, e termina em 1527, quando Sá de Miranda, retornando da Itália, inicia em
Portugal a campanha em prol da cultura clássica. No seu decurso, em que se
opera a implantação das idéias humanísticas, cultivam-se a historiografia, a
prosa doutrinária, a poesia, o teatro e a novela de cavalaria: Amadis de Gaula (Massaud Moisés: “A Literatura Portuguesa através dos textos”).
A Igreja vai, aos poucos, perdendo seu poder, agravado pelo surgimento de uma
divisão interna que leva à existência de dois papas, um França e outro na
Itália. Com isso, o teocentrismo e a religiosidade, marcantes na Idade Média,
começam a decrescer. O progresso, as navegações e o predomínio do poder
econômico sobre o status da nobreza fazem com que o homem se descubra como
senhor de sua própria vida e não como mero reflexo de Deus. Esta visão
antropocêntrica (o homem como centro do universo) culmina com o aparecimento do
Renascimento, na busca dos ideais clássicos como forma de recuperar a
independência do espírito humano (Maria da Conceição Castro: “Língua e Literatura”). A
religiosidade é grande, mas o teocentrismo perde sua força. À medida que a consciência
do que o homem é capaz de fazer e a cultura se ampliam, a vida começa a ser
justificada pela aço do homem e não pela ação divina. É o Humanismo. As
invenções, o comércio, o contato menos difícil com o restante do mundo ou mesmo
entre regiões. e a convivência de valores antagônicos fazem desse um período de
transição entre a decadência da Idade Média e o nascer de um novo mundo.
Redescobre-se a cultura dos gregos. essencialmente humanista, surgindo o
chamado Renascimento (Paschoalin e Spadoto: “Literatura, Gramática e Redação”). Dentre os autores inseridos
na escola Humanista, destaca-se Gil Vicente e seu teatro. Embora freqüentador
da corte, Gil Vicente é um artista profundamente enraizado nas tradições
populares. Em suas peças vemos desfilar toda a galeria de tipos humanos da
sociedade portuguesa, de reis a camponeses, de princesas a alcoviteiras. A
poesia popular e os costumes folclóricos também são elementos de que se valeu
Gil Vicente para a composição de seu teatro. A linguagem rica e variada das
personagens, de acordo com sua origem e posição social, é outro aspecto
importante da arte vicentina. Aliás, a riqueza e a vivacidade do diálogo são a
sua maior contribuição para o estabelecimento de um teatro literário português,
bem distante das rústicas encenações de então. O uso do verso não tomou
artificial a linguagem de suas peças. Sabendo desenvolver com muita arte e
inteligência as potencialidades da língua portuguesa (e castelhana), Gil
Vicente explora o trocadilho, os ditos populares, utiliza-se de falares
regionais, aproveita (como trovador que foi) a beleza da linguagem das cantigas
e a suavidade dos hinos religiosos (Douglas Tufano: “Estudos de Língua e Literatura”). O teatro vicentino traz inovações
à dramaturgia. Dentre elas, a fundamental é em relação ao tema. Gil Vicente
traz ao palco o homem de seu tempo e em todas as suas condições, do camponês ao
papa, do cigano ao judeu, do sapateiro ao príncipe, do médico e o clérigo ao
corregedor e ao fidalgo, da alcoviteira à mulher predestinada à maternidade. De
cada um, Gil Vicente fixa um retrato, pondo em relevo os vícios da época:
ridiculariza a imperícia dos médicos (físicos) na Farsa dos físicos; as práticas da feitiçaria, no Auto das fadas; a bazófia nobiliárquica,
na Comédia sobre a cidade de Coimbra,
na Farsa do escudeiro e na Farsa dos almocreves; o relaxamento dos
costumes clericais, no Clérigo da Beira,
no Auto da barca do inferno, na Farsa de Inês Pereira; a simonia, no Auto
da feira e na Barca da glória; a corrupção no seio da família, no Auto da Índia; a nobreza de viver na
sua fatuidade e à custa do trabalho alheio, na Farsa dos almocreves; etc. (William Roberto Cereja e Thereza A. C.
Magalhães: “Português: Linguagens”).
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É isso!
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