Quanto à origem etimológica
da palavra Realismo, vem de real, do
latim res: coisa, fato, e do sufixo
ismo, que designa partido, gênero,
doutrina, crença, profissão etc. A época do Realismo em Portugal inicia-se em
1865, com a “Questão Coimbrã”,
deflagrada pelo posfácio de Castilho ao Poema
da Mocidade, de Pinheiro Chagas, no qual proclamava acerbas restrições aos
estudantes de Coimbra adeptos da Idéia Nova. E esmorece por volta de 1890,
quando Eugênio de Castro, publicando Oaristos,
desencadeia o aparecimento da estética simbolista. Numa visão mais profunda dos
fatos, percebe-se que a instalação do Simbolismo não obstou que o ideário
realista permanecesse atuante pelo menos até 1915. Durante o seu fastígio, o
Realismo em Portugal deu origem à única geração literária que merece este nome
além-Atlântico. E afora única, notabilizou-se por reunir uma plêiade de homens
superiores e talentosos como jamais houve antes ou depois na história da
Literatura Portuguesa. Em qualquer das direções seguidas pela atividade
literária na época realista (a poesia, a prosa de ficção, o jornalismo
doutrinário, a historiografia, a crítica e a historiografia literária) é possível
encontrar estrelas de primeira grandeza (Massaud Moisés: “A Literatura Portuguesa através dos textos”). O termo realismo
designa a tendência que caracteriza os autores fortemente apegados à chamada
descrição “fiel” das coisas e da sociedade. Toma-se, portanto, como o contrário
de romantismo. O movimento realista surgiu como desgaste e superação da
literatura romântica. Aliás, grandes realistas, como Balzac ou Standhal, Gogol
ou Charles Dickens, tinham sido românticos e quase naturalmente foram chegando
a formas menos idealizadas da vida, até retratarem a sociedade moderna em sua
nudez crua e opressiva. Esse é o caso de Machado de Assis, a partir de Memórias
Póstumas de Brás Cubas (1881), que inaugura nosso realismo (A. Medina
Rodrigues, Dácio A. de Castro e Ivan P. Teixeira: “Antologia da Literatura Brasileira”). Dentre os autores inseridos
no Realismo, destacam-se, em Portugal: José
Maria Eça de Queirós (1845-Paris), na prosa: Foi um dos maiores escritores
portugueses. Nasceu em Póvoa de Varzim, em 1845. Filho ilegítimo um advogado e
da filha de um militar, passa a primeira infância com a madrinha e em
internatos. vem a conhecer os pais aos dez anos. Esse fato explica a sua
sensibilidade face à hipocrisia moral; denuncia, em seus romances, a contradição
entre a religiosidade aparente os sentimentos reais de suas personagens. Eça de
Queirós forma-se em Direito, em 1866, pela Universidade de Coimbra. Vai para
Lisboa onde começa a escrever. Cabe-lhe a glória de ter sido o criador do
Realismo nacional. A sua personalidade literária define-se nos folhetins
publicados na Gazeta de Portugal, reunidos num livro póstumo chamado Prosas
Bárbaras (Maria da Conceição Castro: “Língua e Literatura”); Antero de
Quental (1842-1891), na poesia: Seu nome completo era Antero Tarquínio de
Quental. Estudou Direito em
Coimbra. Depois da Questão Coimbrã, foi para Paris.
Retornando a Portugal, exerceu atividades políticas, ligando-se ao Partido
Socialista. A morte do pai levou-o de volta à cidade natal (nos Açores), onde,
após uma enfermidade e muitas crises existenciais, veio a se matar. Obras: Odes
modernas (1865); Primaveras românticas (1872); Raios de extinta luz (1892).
Distinguindo-se sobretudo como sonetista, um dos maiores de Portugal, Antero
produziu uma obra que tem como traço característico um profundo pessimismo
diante da vida (“Faraco e Moura: “Língua e Literatura”). E, no Brasil,
destaca-se: Joaquim Maria Machado de
Assis (1839- 1908), na prosa. Filho de um pintor mulato e de uma lavadeira
portuguesa, no chegou a realizar seus estudos regulares. Trabalhou como tipógrafo e revisor, tornando-se mais tarde intenso colabora-dor na imprensa da
época. Casou-se em 1869 com Carolina Augusta Xavier de Novais, companheira que
muito o ajudou na carreira literária. Juntamente com Joaquim Nabuco, fundou a
Academia Brasileira de Letras, em 1897, tendo sido eleito unanimemente como seu
primeiro presidente. Machado de Assis não é um escritor: é um grande escritor.
De origem humilde, órfão desde cedo, gago e epiléptico, funcionário público,
tímido e reservado, modelo de autodidata, transformou-se no melhor prosador de
nossas letras. Sua obra não cabe na classificação de uma escola ou no estreito
compartimento de um gênero. Ele é universal (J. Milton Benemann e Luís A.
Cadore: (“Estudo Dirigido de Português:
Língua e Literatura”). Machado de Assis estreou como romancista em 1872,
publicando Ressurreição. Entre esse primeiro livro e o último, Memorial
de Aires (1908), percebe-se uma lenta evolução que faz de sua obra uma das
mais importantes de nossa literatura.
Seus quatro primeiros romances - Ressurreição (1872), A mão e
a luva (1874), Helena (1876) e laia Garcia (1878) -
representam, por assim dizer, a primeira fase da produção de Machado de Assis.
Embora estejam presentes traços românticos na representação das personagens e
na estruturação do enredo, essas obras já revelam, ainda que timidamente, as
características que marcarão a fase realista e madura do autor, como o
interesse na análise psicológica das personagens, um certo humorismo, os
monólogos interiores e os cortes na ordem linear das narrativas (Douglas Tufano: “Estudos de Língua e Literatura”).
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É isso!
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