A palavra cerveja, segundo alguns, vem de cervisia,
termo utilizado pelos antigos romanos. Outros ainda a fazem derivar de Ceres, deusa da
germinação. Dizem ainda que sua origem remonta aos antigos gauleses, porém,
sabe-se que se tratava de uma bebida trivial no antigo Egito, que atribuía sua invenção a Osíris. Também os antigos gregos, belgas, germanos, espanhóis,
italianos, entre outros, consumiam a bebida. Adam Smith, em “A Riqueza das
Nações”, considera a cerveja inglesa um artigo de luxo, assim como vinho: “Todas as demais coisas eu as denomino artigos de luxo, sem com este
termo pretender lançar a mínima censura a quem deles faz uso moderado. Denomino artigos de luxo, por
exemplo, a cerveja e a cerveja inglesa, na Grã-Bretanha, e o vinho, mesmo
nos países produtores desse artigo.” Nietzsche compara o alcoolismo, incluindo aí a cerveja,
como o segundo “narcótico” alemão, sendo o cristianismo o outro. Assim escreve
em “Crepúsculo dos Ídolos”: “O
que poderia ser
o espírito alemão, quem já não teria experimentado seus pensamentos melancólicos
sobre isso! Mas esse povo emburrou-se arbitrariamente, desde quase um milênio:
em nenhum outro lugar, os dois grandes
narcóticos europeus, álcool e cristianismo, foram mais viciosa e
abusivamente utilizados. Recentemente, até mesmo um terceiro narcótico veio
ainda acrescentar-se a esses dois; um com o qual é possível aniquilar sozinho
toda mobilidade sutil e audaz do espírito: a música, nossa música alemã
entulhada e entulhadora. - Quanto há do peso enfadado, do aleijão, da umidade,
do robe, quanto há de cerveja na inteligência
alemã!
Como é afinal possível que homens jovens, dedicando sua existência aos fins
mais espirituais, não sintam em si o primeiro instinto da espiritualidade, o
instinto da autoconservação do espírito, e bebam cerveja?... O alcoolismo da juventude erudita talvez não
seja ainda nenhum ponto de interrogação no que concerne à sua erudição.
Pode-se, mesmo sem espírito, ser um grande erudito. Mas se considerarmos de
qualquer outro modo, ele permanece um problema. Onde não se encontraria a suave
degradação que a cerveja produz no espírito! Em um caso que quase se tornou
célebre, uma vez coloquei o dedo em uma tal degradação – a degradação de nosso
primeiro espírito livre alemão, do inteligente David Strauss; o homem que se
transformou no autor de um evangelho de cervejaria e de uma "nova
crença"... Não à toa fez ele seu elogio à "amada loura" em
versos. - Fiel até a morte...”
No Brasil o hábito de beber cerveja vem de longe. A Literatura nos
oferece bons exemplos, como estes, a partir do século XIX: de Lima Barreto, em
“Histórias e Sonhos”: “Estava ali o velho
Maximiliano esquecido, só moendo cismas, bebendo cerveja, obediente ao seu velho hábito”; em “Diário Íntimo”: “O dia é meigo. O Sol, ora espreitando através de nuvens, ora todo aberto,
não caustica. Nos dois abarracamentos cheios de gente, espoucam garrafas de cerveja que se abrem”; de Adolfo caminha, em “A Normalista”: “É
o que tu pensas, retorquiu o outro. Hoje não há que fiar em moças, pobres ou
ricas. Todas elas sabem mais do que nós outros. Lêem Zola, estudam anatomia
humana e tomam cerveja nos cafés”;
de Coelho Neto, em “A Conquista”: “Sabe
ler? - perguntou abruptamente o Neiva dirigindo-se a Anselmo, enquanto o garçom
ia enchendo os copos com a cerveja
que o Motta mandara vir. O estudante sorriu vexado”; de
Júlia Lopes de Almeida, em “A Intrusa”: “Adolfo
parecia grudado ao bufê, comendo sanduíches e bebericando cerveja, no meio de um grupo de remadores muito adulados pela
admiração dos outros”; de Jorge Amado, em “Capitães da Areia”: “Faltava para o miserável hotel onde se hospedara e que era o único da
vila, e também o trago de pinga, para a cerveja,
que não era gelada ali, assim mesmo ele gostava”; de Inglês de Souza, em “O
Missionário”: “Grave e
digno, o sacristão afastou-se sem dizer palavra, e meteu-se pelo corredor. Um
homem de sobrecasaca de brim branco, e chapéu de manilha na cabeça, passava
sobraçando botijas de cerveja Bass”; de
Aloísio de Azevedo, em “O Cortiço”: “O
Garnisé tinha bastante gente essa noite. Em volta de umas doze mesinhas toscas,
de pau, com uma coberta de folha-de-flandres pintada de branco fingindo mármore,
viam-se grupos de três e quatro homens, quase todos em mangas de camisa,
fumando e bebendo no meio de grande algazarra. Fazia-se largo consumo de cerveja nacional, vinho virgem, parati e laranjinha”; de Joaquim de
Macedo, em “A Luneta Mágica”: “Depois da
velha correu a ter comigo um cavalheiro de maneiras muito distintas, e da mais
perfeita cortesia, a quem acontecera um desses pequenos infortúnios, a que
todos estamos sujeitos: acabando de comer pastéis, e de beber uma garrafa de cerveja, reconhecera haver esquecido a
carteira, e achava-se naturalmente muito contrariado”; de João do Rio, em
“A Alma encantadora das ruas”: “O negro
casou em Portugal , o Zás-trás conseguiu tudo com jeito, e eu fui
encontrar o Saldanha aposentado, considerado como um velho artista diante de um
copo de cerveja”;
Artur Azevedo, em “Contos fora de moda”: “Os dois amigos sentaram-se a uma mesa, diante de dois copos de cerveja alemã. O Miranda esvaziou
imediatamente um deles, e pediu reforço.”
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É isso!
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