A palavra vacina, do francês vaccine,
remonta à palavra latina vacca,
“porque era do ubre das vacas que se tiravam a matéria que inoculava as
crianças contra as bexigas”. As primeiras experiências com vacina foram
realizadas na Inglaterra pelo médico Eduardo Jenner, no ano de 1798, que se
espalharam rapidamente de 2 a
3 anos por toda a Europa. A vacina nada mais é do que a utilização de qualquer
espécie de vírus atenuado que, colocados no organismo, induz certas reações e a
formação de anticorpos capazes de tornar imune esse organismo ao germe utilizado.
Machado de Assis, com sua fina ironia, comenta as proeza das vacinas em “A
Semana”: “Tudo tende à vacina.
Depois da varíola, a raiva; depois da raiva, a difteria; não tarda a vez do
cólera-morbo. O bacilo-vírgula, que nos está dando que fazer, passará em breve
do terrível mal que é, a uma simples cultura científica, logo de amadores, até
roçar pela banalidade. Uma vez regulamentado, fará parte dos cafés e
confeitarias. Que digo? Entrará nos códigos de civilidade, oferecer-se-á às visitas
um cálix de cólera-morbo ou de outro qualquer licor. Os cavalheiros perguntarão
graciosamente às damas: “V. Ex. já tomou hoje o seu bacilo?” Far-se-ão
trocadilhos”. No Brasil a vacina chegou em 1804 (“de braço a braço, de escravos”), mandada vir de Lisboa por negociantes
portugueses da Bahia. No início do século XX, mais exatamente no ano de 1904,
sob o comando do médico sanitarista Oswaldo Cruz, o governo brasileiro tornou
obrigatória o uso da vacina contra a
varíola, o que culminou na chamada “Revolta da Vacina”. Em seu livro “História
do Brasil”, o professor Francisco de Assis Silva comenta esta rebelião: “O descontentamento generalizado levou à
explosão da revolta popular em novembro de 1904. Durante vários dias a cidade
tornou-se um campo de batalha. De pequenos distúrbios, a revolta atingiu
dimensões gigantescas, com a massa dos cortiços e das favelas, operários e
comerciantes enfrentando as tropas, fazendo barricadas, queimando bondes,
invadindo delegacias e postos policiais etc. Do quebra-quebra e do enfrentamento
resultaram centenas de mortos de ambos os lados. A luta popular foi seguida de
uma revolta militar. Os líderes dessa revolta (o tenente - coronel Lauro Sodré
e os generais Silva Travassos e Olímpio da Silveira) viam na rebelião popular
uma possibilidade de derrubar o presidente Rodrigues Alves. Após alguns embates
vitoriosos os rebeldes militares foram derrotados por tropas fiéis ao
presidente. A revolta da massa entrincheirada e armada com bombas, revólveres,
carros carregados de dinamite e pedras também foi sufocada. A capital federal
conhecera uma agitada semana que colocou em perigo a constitucionalidade da
nação e resultou num número incontável de mortes, prisões, espancamentos,
assassinatos e deportações.” Em seu “Diário Íntimo” Lima Barreto, que esteve
por lá, escreveu: “O
governo diz que os oposicionistas à vacina, com armas na mão, são vagabundos,
gatunos, assassinos, entretanto ele se esquece que o fundo dos seus batalhões,
dos seus secretas e inspetores, que mantêm a opinião dele, é da mesma gente”. Em
seu clássico “Capitães da Areia”, Jorge Amada nos brinda com o da varíola: “Omolu mandou a bexiga negra para a cidade. Mas lá em cima os homens
ricos se vacinaram, e Omolu era um deus das florestas da África, não sabia
destas coisas de vacina. E a varíola desceu para a cidade dos pobres e botou
gente doente, botou negro cheio de chaga em cima da cama. Então vinham os
homens da Saúde Pública, metiam os doentes num saco, leva para o lazareto
distante. As mulheres ficavam chorando, porque sabiam que eles nunca mais
voltariam.”
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É isso!
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Referência Bibliográfica:
Francisco de Assis Silva: História do Brasil. Editora Moderna. São Paulo, 1994.
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