12 de nov. de 2012

Desarmonia da criação (Jogos de Palavras)



A Língua Portuguesa é imensamente fértil no que tange à existência de palavras as quais, embora  sonora e graficamente semelhantes, destoam entre si com a mudança da desinência ou de alguns de seus elementos morfológicos, como no caso do o que dá lugar ao a etc. Os jocosos jogos de palavras a seguir, extraídos de um Almanaque do remoto ano de 1884, ilustram um pouco esta deliciosa singularidade linguística:

O bico, amigo inseparável das aves, enterra-se na própria imundícia para ser-lhe agradável, enquanto que a bica, bastante asseada, presta um ótimo serviço á humanidade, dando de beber a quem tem sede.

O galo, coitado! é muitas vezes morto, esfolado e comido nos banquetes dados á sua cruel gala.

O boto vive na água, ao passo que a bota prefere enterrar-se na lama.

O cano recebe em seu seio toda a sorte de impurezas tornando-se cada vez mais indigno da cana que garbosa e pura conserva-se na altura de seu merecimento açucareiro.

O milho contenta-se, sacrificando a vida, em dar forças ao cavalo para alcançar a sua fugitiva e ingrata milha.

O colo, esse vive nos braços da paixão, enquanto a cola despeitada agarra-se aos trastes.

O pasto, sertanejo por excelência, alimenta em seu seio toda casta de animais sem se importar com a vaidosa pasta que se faz amante apaixonada dos ministros.

O ponto, por mais períodos que marque, nunca encontra a ponta de seu pensamento.

O prato, sempre limpo, ostenta-se nas mais nobres mesas, e a prata bastante imunda corre o mundo.

O porto abre os braços a milhares de embarcações; a porta, com raiva fecha-se na cara de muita gente.

O tesouro dá prazeres à humanidade, a tesoura para vingar-se, corta na pele da dela.

O traço, é muitas vezes roído pela sua voraz esposa a traça.

O fado nunca teve a dita de ver a fada de seus sonhos.

O figo habita os pomares e sacrifica-se a quem o come, mas a figa segura-se ao pescoço das crianças a pretexto de afugentar o quebranto.

O banho vivifica e refresca o corpo; a banha, por birra enfraquece e emplasta o cabelo.

O rótulo, não se cansa de apregoar os segredos das garrafas, enquanto a rótula muda e indiferente suporta em seus braços longos colóquios amorosos.

O solo é a todo instante pisado pela sola que o despreza cruelmente.

O toco, apesar de pequenino, não procura a toca nem pelo diabo.

O palmo, por mais que se multiplique, nunca consegue unir-se á sua.querida palma.

O estrado, habitante das salas, envergonha-se de pensar que a estrada se deixa pisar por toda a sorte de animais.

O limo, é tão mole quanto e dura a lima e por isso não se unem.

O novelo está sempre junto da agulha, e a novela, por vingança cativa o espírito de quem a lê.

O papo, apesar de servir de deposito repele a papa por ser muito indigesta.

O lixo, suja o que está limpo, e a lixa limpa o que está sujo.

O elo tem prendido muitas elas, mas sempre à ordem de outrem.

O verbo, promete mundos e fundos a toda gente, mas a verba nem sempre está pelos autos.

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É isso!

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