A
Língua Portuguesa é imensamente fértil no que tange à existência de palavras as
quais, embora sonora e graficamente
semelhantes, destoam entre si com a mudança da desinência ou de alguns de seus
elementos morfológicos, como no caso do o
que dá lugar ao a etc. Os jocosos jogos
de palavras a seguir, extraídos de um Almanaque do remoto ano de 1884, ilustram
um pouco esta deliciosa singularidade linguística:
O bico,
amigo inseparável das aves, enterra-se na própria imundícia para ser-lhe
agradável, enquanto que a bica, bastante asseada, presta
um ótimo serviço á humanidade, dando de beber a quem tem sede.
O galo,
coitado! é muitas vezes morto, esfolado e comido nos banquetes dados á sua
cruel gala.
O boto
vive na água, ao passo que a bota prefere enterrar-se na
lama.
O cano
recebe em seu seio toda a sorte de impurezas tornando-se cada vez mais
indigno da cana que garbosa e pura conserva-se na altura de seu
merecimento açucareiro.
O milho
contenta-se, sacrificando a vida, em dar forças ao cavalo para alcançar a
sua fugitiva e ingrata milha.
O colo,
esse vive nos braços da paixão, enquanto a cola despeitada
agarra-se aos trastes.
O pasto,
sertanejo por excelência, alimenta em seu seio toda casta de animais sem se
importar com a vaidosa pasta que se faz amante
apaixonada dos ministros.
O ponto,
por mais períodos que marque, nunca encontra a ponta de seu
pensamento.
O prato, sempre limpo, ostenta-se nas
mais nobres mesas, e a prata bastante imunda
corre o mundo.
O porto
abre os braços a milhares de embarcações; a porta, com raiva fecha-se na cara de muita
gente.
O tesouro
dá prazeres à humanidade, a tesoura para vingar-se,
corta na pele da dela.
O traço,
é muitas vezes roído pela sua voraz esposa a traça.
O fado
nunca teve a dita de ver a fada
de seus sonhos.
O figo
habita os pomares e sacrifica-se a quem o come, mas a figa segura-se ao pescoço
das crianças a pretexto de afugentar o quebranto.
O banho
vivifica e refresca o corpo; a banha,
por birra enfraquece e
emplasta o cabelo.
O rótulo,
não se cansa de apregoar os segredos das garrafas, enquanto a rótula muda e indiferente
suporta em seus braços longos colóquios amorosos.
O solo
é a todo instante pisado pela sola
que o despreza cruelmente.
O toco,
apesar de pequenino, não procura a toca nem pelo diabo.
O palmo,
por mais que se multiplique, nunca consegue unir-se á sua.querida palma.
O estrado,
habitante das salas, envergonha-se de pensar que a estrada se deixa pisar por
toda a sorte de animais.
O limo,
é tão mole quanto e dura a lima
e por isso não se unem.
O novelo
está sempre junto da agulha, e a novela,
por vingança cativa o espírito de quem a lê.
O papo,
apesar de servir de deposito repele a papa por ser muito indigesta.
O lixo,
suja o que está limpo, e a lixa
limpa o que está sujo.
O elo tem
prendido muitas elas,
mas sempre à ordem de outrem.
O verbo, promete mundos e
fundos a toda gente, mas a verba
nem sempre está pelos autos.
---
É isso!
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