O texto, a seguir, foi escrito no remoto ano de
1873, referente a dados que, na época, refletiam o conhecimento sobre o
calendário, incluindo aí o conhecimento sobre o tempo, os anos, os meses e
outros assuntos correlatos. A linguagem também reflete o contexto daquele
momento histórico, sendo o texto, hoje, muito importante para ampliar os
horizontes de quem deseja conhecer melhor a história do tempo no decorrer dos
séculos.
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O CALENDÁRIO
As observações do movimento e revolução aparentes do
sol e do movimento da lua determinaram os diversos períodos empregados na
sociedade para a distribuição do tempo. A escolha destes períodos, e a ordem
desta distribuição acomodada aos usos da vida, indicando os dias, as semanas,
os meses etc., compõem o que se chama calendário.
O tempo que a terra gasta para realizar seus
movimentos forma ano solar ou trópico. A sua
divisão em 365 dias, que foi adotada pelos antigos povos, produziu erros
sensíveis; de modo que, observando-se o mesmo solstício por muitos anos
consecutivos, verificou-se que acontecia mais tarde do que sucederia se o ano
fosse exatamente desse numero de dias. Achou-se um erro de 15 dias em 60 anos;
o que demonstrava ser o ano maior um quarto de dia do que até então se
considerou, pelo que regulou-se a sua duração em 365 dias e 6 horas.
Este valor, posto que mais aproximado que o
primeiro, estava ainda longe de ser exato. Hiparco, comparando uma
observação de solstício que fez com outra de Aristarco, feita 145 anos antes,
achou que o ultimo solstício havia acontecido meio dia antes do que devera se o
ano fosse de 365 dias e 6 horas. Havia, pois, um erro de 0,5 de dia em 145
anos, ou 0.00345 de dia em cada ano. Donde se concluiu ser a duração do ano de
365 dias e 0.24655, resultado que Delembre, no principio deste século (século
XIX), ainda corrigiu, dando ao verdadeiro ano médio 365 dias e 0,242264.
As desigualdades, tanto periódicas como seculares,
do aparecimento do sol em um ponto dado, fazem com que não baste a
observação de dois equinócios para ter a verdadeira extensão do ano. Este astro
não volta constantemente aos mesmos equinócios em intervalos de tempo perfeitamente
iguais. As desigualdades periódicas, produzidas pela oscilação da terra em sua
órbita durante a sua revolução, desenvolvem-se no intervalo de um ano, ou de um
curto numero de anos; e compensam-se depois por si mesmas, voltando a passar
pelos mesmos valores. As desigualdade seculares, pelo contraria, vão sempre
crescendo ou decrescendo desde às mais remotas observações até às de nossos
dias. Confrontando-se as observações modernas com as antigas, tornam-se
sensíveis estes efeitos acumulados.
Estes resultados, para serem aplicados à vida civil,
e tornar-se vulgar o seu uso, necessitam ser despidos das frações que os
acompanham, a fim da memória conservá-los com facilidade. Como reconheceu-se o
inconveniente da divisão do ano em 365 dias, por sua inexatidão recair
principalmente sobre a origem sucessiva do ano nas diversas estações; de forma
que a pequena diferença de 0.242264 de dia, produzindo muito proximamente um
dia em quatro anos avançava-se um ano de 365 dias no fim de 1508 anos;
inventou-se o método das intercalações, que consiste em dar ao ano comum 365
dias e corrigir o erro anual com o acréscimo de um dia, quando se completasse.
A
intercalação mais simples foi a estabelecida por Júlio César. Vendo ele que
o Calendário romano era vicioso, e tendo consultado um insigne
astrônomo, por nome Sosígenes, cuja opinião era que o ano solar constava
de 365 dias e 6 horas exatas, fez o ano civil de 365 dias; e ordenou que
de que de 4 em 4 anos, com as 6 horas completas, que supunha excederem a cada ano,
se formasse um dia intercalar, que se acrescentasse ao mês de Fevereiro,
ficando então este com 29 dias, e esse ano, que os romanos denominarão bissexto,
com 366. A
este calendário assim reformado, que se começou a por em pratica 45 anos antes
de Jesus Cristo, deu-se o nome de Calendário Juliano.
A
reunião de 100 anos julianos forma o século, que é o mais longo dos
períodos empregados na sociedade para medir o tempo.
A
intercalação se transmitiu a todas as nações; mas conservarão a sua era
diferente da dos romanos.
Na era
cristã contam-se os anos desde o nascimento de Jesus Cristo, que
teve lugar no ano 4004 da criação do mundo, segundo a cronologia
vulgar.
Conhecendo-se,
com o tempo, que o ano solar não se compunha de 365
dias e 6 horas exatas, e sim de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45 segundos,
isto é, 365 dias e 0,242264, e que a pequena diferença anual de 0,007736 se
havia acumulado, e produzido, em 7257 anos, 9 dias e 0,72415, isto é, 10 dias
de que estava atrasado o ano civil sobre o solar. Por esta razão,
tendo sido fixada a Páscoa em 21 de Março, dia do primeiro equinócio, pelo
concílio de Nicéia, celebrado no ano de 325 da era cristã, já no pontificado de
Gregório XIII esta festa se tinha antecipado 10 dias, e com ela todo o ciclo
das festas móveis. Mandou, pois, o dito papa, por conselho do astrônomo Luiz
Lílio, que o dia seguinte aos 4 de Outubro de 1582 não se chamasse 5, mas 15 de
Outubro, afim de restituir o primeiro equinócio aos 21 de Março, que então
cabia a 11 do mesmo mês; que se continuasse a empregar a intercalação juliana
de um dia todos os 4 anos, de maneira que todos os anos, cujo numero fosse
divisível por 4, seriam bissextos;
e que dos anos seculares, que até ali eram todos bissextos, só o fosse
um em cada período de 400 anos, isto é, que suprimisse-se o dia intercalar nos
anos 1700, 1800 e 1900, e que subsistisse no ano 2000, e assim perpetuamente,
de sorte que três anos seculares comuns fossem seguidos de um ano
secular bissexto.
O pequeno erro que ainda resta,
depois da intercalação secular, é de 0,0944
de um dia em 400 anos, ou 0,944 em 4000 anos. Convencionando-se, pois, suprimir
ainda um bissexto todos os 4000 anos, será a reforma atual por muito tempo
suficiente para os séculos futuros.
Este
modo de contar os anos constitui o que se chama Calendário Gregoriano, segundo
o qual o primeiro equinócio acontece sempre de 19 a 21 de Março. Entre os
russos e os cristãos do rito grego ainda não foi adotado este calendário, o que
ocasiona uma diferença no modo de contar as datas; de sorte que, por
conservarem o calendário juliano, ficarão com 10 dias de menos do ano de
1582 a
1700, 11 de 1800 a
1900, e assim por diante.
O ano é
dividido em estações análogas aos trabalhos da agricultura, as
quais são: primavera, verão, outono e inverno. Esta grande
divisão do ano conduz á de 12 meses, que conforma-se em sua ordem sucessiva com
a marcha aparente do sol, e conduz regularmente à passagem deste astro nos
diversos signos.
A semana é uma subdivisão do mês, que remonta
à mais alta antiguidade : é inútil mencionar o nome dos sete dias que a compõe.
Como o ano consta de 52 semanas, cada um destes nomes volta também 52 vezes;
porém como 52 vezes 7 só dão 364 dias, o dia em que principia o ano se reproduz
mais uma vez para terminá-lo; se o ano é bissexto, o dia 2 de Janeiro tem então
o nome de terminal.
A divisão da semana em sete dias é admitida quase
que entre todos os povos desde tempos imemoriais. Entretanto, entre
os atenienses a semana se compunha de 10 dias, e o mês de três décadas.
Este uso adotado em Franca durante a primeira revolução, durou desde 22 de
Setembro de 1792 até o 1º de Janeiro de 1800.
As horas são hoje a 24ª parte da revolução diurna da
terra; mas existiram povos que dividiram em 12 somente o intervalo total do dia
e da noite. O dia de 24 horas é chamado dia artificial, e o tempo que
vai do nascer ao por do sol dia natural.
As horas em uso entre os romanos e os judeus era,
desiguais. Dividia-se separadamente o dia em 12 partes, o a noite em outras 12;
portanto, maiores ou menores segundo o sol estava mais ou menos tempo no
horizonte. Também dividiam o dia em quatro partes, a saber: prima, que
começava às 5 horas da manhã; terça, às 9 horas; sexta, ao meio-dia ; e nona, às 3
horas da tarde.
As horas babilônicas começavam-se a contar ao nascer
do sol; mas as 24 eram iguais. Este era o costume entre os
persas, e a maior parte dos orientais. Os gregos modernos seguiram este
exemplo.
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É isso!
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Referência Bibliográfica:
Almanak da Provincia de São Paulo para 1873. Primeiro anno. Luné, Antônio José
Batista de (org.). Brasiliana – USP
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