A palavra amuleto
vem do latim amuletum, que, segundo o
padre Joseph Marques, em seu “Novo Diccionario das Linguas Portugueza e
Franceza”, de 1748, era de uso médico, havendo, segundo ele os amuletos de uso
supersticiosos e aqueles para fins medicinais. Ele explica: “Há duas castas de
amuletos, uma de caracteres, figuras e palavras ridículas, supersticiosas e,
como tal, abominada pelos bons médicos; a outra, louvável e maravilhosa, não
apenas como remédio, mas também para
preservar muitas doenças, que se curam com virtudes ocultas que os próprios
médicos não alcançam.” Cita ele um exemplo: um dente de cão macho, arrancado
estando vivo, furando-o e trazendo-o ao pescoço, de maneira que toque ao corpo,
para prevenção de dores de dentes... Como exemplos de amuletos supersticiosos
faz menção das pedras preciosas que os antigos traziam ao pescoço para curar
doenças. Hoje, considera-se amuletos qualquer objeto a que se atribui virtudes
preservativas contra males físicos, morais e espirituais, tais como: letras,
palavras, figuras, dentes, patuás, galhos de arruda, entre outras infinidades
de objetos. No século XIX, no Brasil, dizia-se que a “chave macha” barrava os
taques epilépticos; alguns tipos de
sinos espantavam bruxas; galho de alecrim livrara de feitiços; corda de
enforcados prevenia desgraças etc. A imaginação popular é muito fértil nesse
aspecto, e mesmo em pleno século XXI o homem continua se apegando a amuletos
para deles tirarem os mais variados “benefícios”. Temos muitos exemplos na
nossa Literatura: de João do Rio, em “A
Alma encantadora das ruas”: “Os turcos são muçulmanos, maronitas, cismáticos,
judeus, e nestas religiões diversas não há gente mais cheia de abusões, de
receios, de medos. Nas casas da Rua da Alfândega, Núncio e Senhor dos Passos,
existem, sob o soalho, feitiçarias estranhas, e a tatuagem forra a pele dos homens como amuletos. Os maronitas pintam iniciais,
corações; os cismáticos têm verdadeiros eikones primitivos nos peitos e nos braços; os outros trazem para o corpo
pedaços de paramentos sagrados. É por exemplo muito comum turco com as mãos
franjadas de azul, cinco franjas nas costas da mão, correspondendo aos cinco
dedos. Essas cinco franjas são a simbolização das franjas da taleth
, vestimenta dos Khasan,
nas quais está entrançado a
fio de ouro o grande nome de Ihaveh”; de Júlia Lopes de
Almeida, em “Livros das Donas e Donzelas”: “Basta olhar para uma
mulherzinha moderna para a gente perceber que se preocupa com feitiços e é
supersticiosa. A quantidade de figas e de amuletos
que traz ao pescoço, bem o prova. Em vez de nos ensinarem a sermos simples e cordatos,
tornam a vida cada vez mais complexa e difícil”; de Bernardo Guimarães, em “O Ermitão de Muquém”: “Um preto velho, famoso feiticeiro,
respeitado e temido pelo vulgo, lhe tinha dado certa mandinga ou caborje, amuleto temível e milagroso, que o
preto inculcava como um preservativo infalível contra balas, contra raios,
contra cobras e contra toda e qualquer espécie de perigos”; de José de
Alencar, em “O Sertanejo”: “Como é que um enguiço de gente podia derrubar um
homem desta marca, se não tivesse o diabo no couro? Isto com certeza. Mas hei
de arranjar por esta redondeza um bom amuleto
que tenha a virtude de fazer espirrar o demo do corpo de qualquer criatura, por
mais que ele se lhe meta nas tripas”; de Lima Barreto, em “Marginália”: “Para evitar tais
coisas, há a figa-de-guiné, que os indivíduos usam, mas os lares também têm.
Além desse amuleto e dos santinhos,
devem-se trazer, pendurados no pescoço, para afastar desgraças e feitiços, os
"breves";
de Coelho Neto, em “A Conquista”: “Velhos abaçanados, escaveirados, cabelos hirsutos,
chapéu de coco à cabeça, a camisa de madapolão desabotoada, deixando ver os
bentinhos e os amuletos pendurados
do pescoço, com as mãos cruzadas nos joelhos, não se moviam como se não houvessem
chegado ao termo da viagem”; de
Euclides da Cunha, em “Os Sertões”: “Nos vestuários singelos, de algodão ou de chita, deselegantes e escorridos, não havia
lobrigar-se a garridice menos pretensiosa: um xale de lã, uma mantilha ou um
lenço de cor, atenuando a monotonia das vestes encardidas quase reduzidas a
saias e camisas estraçoadas, deixando expostos os peitos cobertos de rosários,
de verônicas, de cruzes, de figas, de amuletos,
de dentes de animais, de bentinhos, ou de nôminas encerrando cartas
santas, únicos atavios que
perdoava a ascese exigente do evangelizador.”
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É isso!
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