Eclipse vem do grego ékleipsis. Segundo o Dicionário Aurélio,
trata-se de um “fenômeno em que um astro deixa de ser visível, totalmente ou em
parte, ou pela interposição de outro astro entre ele e o observador, ou porque,
não tendo luz própria, deixa de ser iluminado ao colocar-se no cone de sombra
de outro astro”. O aparecimento do eclipse sempre impressionou a imaginação das
pessoas. A primeira explicação para o fenômeno recai sobre o âmbito da
religiosidade. Dizia-se que os deuses, indignados
com os crimes da terra, lhe enviavam fenômenos terríveis para punir os delitos.
O eclipse seria assim um presságio de desgraças. No correr dos séculos, vez ou outra aparecia alguém que tentava
entender o fenômeno não pelo viés da crença nos deuses. Péricles, no momento de
embarcar com o seu exército, vendo os soldados aterrados por um eclipse, e o
piloto recusar-se a guiar o navio, com receio da punição dos deuses, caso se pusessem
em marcha com tão maus presságios, soube reanimar-lhes o brio e restituir-lhes
a confiança. Cobrindo com o seu manto a cabeça do piloto, disse-lhe: — crês que
isto seja um presságio de desgraça? — Não, decerto. — Pois bem! continuou o
general, que pode pressagiar-te o corpo que te oculta o sol, e que não tem
outra propriedade senão a de ser maior que este manto? Péricles parecia
conhecer a causa dos eclipses, e, explicando o fenômeno, mostrava o ridículo do
terror inspirado por eles; mas nem todos os homens instruídos da antiguidade tinham visão
semelhante. Muitos contentavam-se em saber que o fenômeno era natural, e
importavam-se pouco com a sua explicação. Não obstante, alguns sábios
conheceram a verdade, e muitos eclipses foram preditos na antiguidade. Serviam-se
do ciclo de Méton, período de
dezenove anos, dado pela observação, e que indica ao fim de quanto tempo os
mesmos fenômenos luni-solares se reproduzem, proximamente nas mesmas épocas.
Julga-se que nos seus cálculos não obtiveram maior aproximação que a de um
quarto de hora. Conta-se que Cristóvão Colombo, tendo naufragado nas costas das
ilhas, e achando-se carente de tudo, e entregue á ingratidão dos Espanhóis,
valeu-se dos seus conhecimentos astronômicos, para satisfazer as primeiras necessidades
da vida, e dispor a seu favor os ânimos dos índios. Chamou os principias deles
e disse-lhes “que Deus, irritado com eles não os socorrerem, iria priva-los da
luz da lua”. Os índios riram-se da “profecia”; porém, vendo o acontecimento realizar-se,
vieram lançar-se aos pés do ilustre navegante, que, depois de ter fingido ser
um enviado da divindade, lhes disse que o seu arrependimento tinha obtido o
perdão de Duos, e que a lua iria aparecer outra vez. O que efetivamente
aconteceu. Desde esse momento, Colombo teve de tudo em abundância. Numa
de suas crônicas, escrita no dia 16 de abril 1883, o nosso maravilhoso escritor
Machado de Assis, ironiza o fenômeno, realçando a façanha do homem em poder
prevê-lo: “Há hoje um eclipse do
sol. Está anunciado. Os astrônomos chegaram a esta perfeição de descrever
antecipadamente esta casta de fenômenos, com o minuto exato do princípio e do
fim, o primeiro e o último contato. Não há mais que aguardá-lo e mirá-lo, mais
ou menos, segundo ele for total ou parcial. E assim se vai o melhor da vida,
que é o inopinado. O incerto é o sal do espírito. Ah! Bons tempos em que os
eclipses não andavam por almanaques, e queriam dizer alguma coisa, tais quais
os cometas, que eram um sinal da cólera dos deuses. Os deuses foram-se levando
a cólera consigo. Assim pagaram as oferendas e os poemas que receberam de
milhões e milhões de criaturas.”
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É isso!
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Referência Bibliográfica:
Almanach familiar para Portugal e Brazil: 1º
anno, publicado por: Gualdino Valladares e Augusto valladares. Tipografia de
A.B. da Silva. Braga, 1868.
É isso!
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Referência Bibliográfica:
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