Manes, do latim manes,
ium: deuses, eram, para os antigos romanos, as almas deificadas de
ancestrais já falecidos. Segundo Severo, os manes são as almas separadas dos
corpos humanos que ainda não tem entrado nos outros corpos, e que se
contentaram em fazer mal aos homens. Alguns acreditam que tal palavra vem de manare: correr ou sair, porque
eles ocupam a atmosfera que está entre a terra e a lua, de onde descem para vir
atormentar os homens. Em Atenas e Roma havia meses especiais em honra e
memórias deles. Por receio de que os casamentos fracassassem sob maus
auspícios, proibiam-se tais cerimônias no segundo mês do ano, por lhes ser
consagrado. Exemplos: de Machado de Assis, em uma de suas crônicas: “De mim peço ao cocheiro que me levar, que
já na ida para o cemitério vá francamente satisfeito, com uma pontinha de riso
e outra de cigarro ao canto da boca. Pisque o olho às amas secas e frescas, e
criaturas análogas que for encontrando na rua; creia que os meus manes não sofrerão no outro mundo; ao contrário,
alegrar-se-ão de saber a cara ajustada ao coração, e a indiferença interior não
desmentida pelo gesto. Imite as suas mulas, que levam com igual passo César e
João Fernandes”; de Alexandre Herculano, em “Viagens na minha
terra”: “Togados manes dos antigos desembargadores,
venerandas cabeleiras de anéis e castanhola, que direis, ó respeitadas sombras,
se desse limbo onde estais esperando pela ressurreição do Pegas...”; de
Eça de Queiroz, em “A Cidade e as Serras”: “E eu, na alegria de avistar enfim meu
Príncipe trotando para a minha casa de aldeia, no dia dos meus trinta e seis
anos, pensava noutro natalício, no dele, em Paris, no 202, quando, entre todos
os esplendores da Civilização, nós bebemos tristemente ad manes, aos nossos mortos!”;
de Coelho Neto, em “A Conquista”: “Mas
no dia em que nela pudermos entrar vitoriosos, pisando a verde, macia e
cheirosa folhagem, indo repousar à sombra das árvores, perto da frescura e do
murmúrio da água, nesse dia, reunidos pela saudade, sacrificaremos, com
religioso sentimento, aos manes dos
que ficaram adormecidos à sombra dos ciprestes”; de
Adolfo Caminha, em “O Normalista”: “Que
não tínhamos poeta, disse: o que havia era uma troça de malandros e de pedantes
muito bestas, que escrevinhavam para a Província
coisas tão ruins que
até faziam vergonha aos manes do
glorioso José de Alencar”; de Lima Barreto, em
“Marginalia”: “Não há nisto e, também, com o
mútuo tratamento de tu e você entre pais e filhos, um afrouxamento do uso da
nacionalidade, uma injúria irrogada aos manes
dos nossos avós?”
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É isso!
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