A
palavra presépio (ou presepe) vem do latim praesepium: estrebaria de bestas, viveiros
de feras, curral. Diz-se de uma
representação do local do nascimento de Cristo, em Belém, e das personagens que, segundo o Evangelho,
estavam presentes ou que se seguiram ao nascimento do
Salvador. O nosso João do Rio discorre sobre sobre os presépios, em “A Alma Encantadora das Ruas”: “Os presepes são uma criação popular. Antes dos artistas de Paris e
Viena, que expõem nos salões do Campo de Marte e no Kunstlerhaus, o povo criou
nos presepes o anacronismo
religioso, o anacronismo que, segundo la Sizeranne , é a fé; pôs, como Breughel nos
Peregrinos de Emaús e Beraud na Madalena entre os Fariseus, homens de hoje nas
cenas do Velho Testamento. Os presepes,
como as telas do Renascimento, são as reconstituições religiosas com a cor
local contemporânea. Os psicólogos podem psicologar num reisado a alma nacional
e a intensidade da crença. Cristo para os homens simples está sempre, é a
perene luz salvadora. Por isso cada presepe é um mundo onde homens e
animais de todas as épocas renovam anualmente a admiração de um suave milagre”. Outros autores da nossa Literatura também
fazem menção dessa tradição, a qual aos poucos, parece extinguir-se ante a
força publicitária em prol do velhinho barbudo, o papai Noel: Lima Barreto, em “Marginalia”: “São
João Batista, como toda gente sabe, é figurado com um carneiro ao lado; e nos presepes, com os quais se comemora o
nascimento de Jesus Cristo, há o burro, a vaca, galos, galinhas, etc. A
transcendente imaterialidade do Divino Espírito Santo é representada na
iconografia católica por um pombo”; José de
Alencar, em “Ao correr da pena”: “Com efeito, tudo é encantador nesta solenidade
da igreja, nesses símbolos que comemoram a poética tradição do nascimento de um
menino sobre a palha de uma manjedoura. A missa do galo à meia noite, os presepes de Belém, as cantigas singelas
que dizem a história desse nascimento humilde e obscuro, tudo isto desperta no
espírito uma idéia ao mesmo tempo risonha e grave”; Joaquim de Macedo, em “As Mulheres da
Mantilha”: “A festa popular da noite dos Reis era a que
rematava as festas do Natal, que, acompanhando as sagradas comemorações da
igreja, começavam na noite de 25 de dezembro pela exposição dos presepes, onde se figurava a cidade de
Belém, o lugar humilde do berço do Menino Deus, um campo cheio de pastores e de
multidão de animais, árvores, flores, rios, fontes e cascatas, tudo em mais ou
menos bem feita miniatura, e tudo perturbado por mais ou menos anacronismos e
impropriedades, que aliás não preocupavam nem aos mais entendidos em história
natural e na arqueologia”; Inglês
de Sousa, em “O Missionário”: “As ruas enfeitavam-se. Colchas de seda ou de algodão
debruçavam-se das janelas, ostentando belas cores vivas, e o adro da Matriz,
coberto de folhagem, oferecia a aparência graciosa dum presépio de Natal, as vacas passeando despreocupadamente o
alpendre, e as cabras mastigando as folhas de mangueira e os ramos de murta dos
arcos de ornamentação”;
Júlia Lopes de Almeida, em “Livro das Donas e Donzelas”: As moças dançam no terreiro com os namorados, e os velhos, sentados sob
o alpendre, contam anedotas, rememoram visitas a presépios antigos, até que o sino os chame e eles partam todos, aos
magotes, para a capela tão sua conhecida, tão sua amada!”
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É isso!
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