Etimologia
mística de “Jerusalém”
No
cume dum cerro nu, dominando os vales erguiam-se as grossas muralhas de Jebusalaim,
capital dos jebuseus, inexpugnável e altiva, encerrando a sua fonte perene de Gihon,
que passou a se chamar Fonte da Virgem.
O monte fortificado e povoado de Sion desafiava a cobiça dos hebreus, que empreendiam
vagarosamente a conquista difícil da Palestina. Saul deixara várias vezes a
cidade de Gabaa e impelira os seus soldados até à base dos muros desafiadores;
mas a falta de recursos e de máquinas de guerra o forçava a não dar início ao cerco.
Porém
o talento político e estratégico de Davi, quando guiou a nação dos Beni-lsrael,
compreendeu quanto representaria para o futuro de seu povo e para o completo domínio
da região a posse da fortificação jebusita.
Sua obra era a continuação da obra dos sufetas
ou juízes, unir a nação, dar fim às rivalidades,
ter sempre sob a mão Efraim e Judá, e tirar do seio do povo de Jacó todos os
espinhos dolorosos. Desses o maior era aquele constante, impertinente desdém da
forte Salim (lugar de segurança), povoação destinada a centralizar o governo
real e a simbolizar a homogeneidade do povo de laveh. Diz Renan que foi Davi quem criou Jerusalém, quem fez da
capital israelita o polo magnético do amor e da poesia religiosa do mundo.
Os
grandes doutores da Igreja arranjaram etimologias
místicas simbólicas para esse nome singelo de Jebusalaim (fortaleza dos Jebuseus).
São Jerônimo divide deste modo: Jebu,
Salém + Jerusalém.
Jebu quer dizer calcada aos pés, salém significa paz, e a combinação adulterada dos dois, Jerusalém,
traduz-se por visão de paz. A divisão ternária representa a Santíssima
Trindade e a explicação da origem da
palavra é inteiramente mística. Só depois de calcada aos pés, de humilhada, a
gente se pôde elevar até à paz. Para o mesmo santo, Adão vivera os últimos anos de sua vida e morrera nessa ditosa cidade, sendo
sepultado na colina do Calvário, de maneira que o lugar onde se enterrara o homem que cometera o
primeiro pecado vira o sacrifício do "homem” (Jesus) que veio resgatar todos
os pecados. Santo Agostinho apoia a mesma etimologia. A designação Hierosolima,
de puro sabor grego, é uma criação romana. Ela aparece a primeira vez no
discurso de Cícero – “Ad Atticus”.
João do Norte (1921).
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