De onde veio o "PERU"?
O
peru, galináceo Meleagris gallopavo, embora
considerado oriundo da Índia em tempos remotos e incertos, na espécie que se tornou
doméstica é de origem americana. Os gregos e os romanos já se referiam aos meleagris (galos da Índia) mesmo antes
de Cristo, mas como ave muito rara, como o foi mesmo até o século XV. Jacques
Coeur, o grande comerciante e argentário enobrecido por Carlos VII, trouxe da Índia
alguns casais de perus como aves raríssimas, ainda em 1450. Afirmam, porém, alguns franceses que o bom Rei
René tornou o peru conhecido na França no próprio ano em que morreu, em 1480.
Outros dizem, entretanto, que só no século XVI, sob o reinado de Francisco I,
lá ficou sendo conhecido o dindon,
trazido da América pelo Almirante Chabot, valido daquele monarca. Examinando-se
bem o caso chega-se, porém, à conclusão
de que os meleagris dos gregos e romanos
e os dindons vindos da Índia eram
espécies selvagens, indomesticáveis, pois não existe entre os perus domésticos
nenhum tipo que não seja oriunda do Meleagris
americano nas suas duas variedades — Meleagris Ocellata, oriundo do Iucatã e de Honduras, com bela plumagem
dourada nos machos, e Meleagris gallopavo,
vulgar na América do Norte e no México, onde os espanhóis já o encontraram
domesticado pelos astecas e donde foram ter à Europa, em quantidade tal que, embora
raros ali no século XV, tornaram-se tão vulgares no século XVI que eram comidos
até nas festas dos campônios, não obstante aluda apreciados, como até hoje, nos
banquetes reais. É fora de dúvida, porém, que o peru doméstico, embora chamado
na Europa da Renascença "galo da Índia", é de pura origem americana,
do mesmo modo que os habitantes autóctones da América, até hoje, são denominados
Índios. Aos faisões chamavam os europeus "galos de Limoges", e às
nossas "galinhas de Angola", de hoje (a pintade dos franceses), chamavam "galinhas da Turquia",
que são os mesmos Numida meleagris, cujas pintas brancas nas
penas a lenda afirma serem manchas causadas pelas lágrimas de Eurimedeia e
Melanipe, irmãs de Meleagro, transformadas naquela galinácea por vingança de Ártemis. Assim, o Pavo dos espanhóis,
o Polo da Índia dos italianos, o Dindon
dos franceses, o Turkey cock dos ingleses e o nosso Peru são todos descendentes do Meleagris
gallopavo,
encontrado pelos espanhóis nas Antilhas e no México, já domesticado pelos astecas.
E peru ou perum, sem etimologia certa, só pode ser o nome indígena, que foi o
guardado pelos colonizadores portugueses e, portanto, o mais exato para
designar o galináceo, de carne tão delicada, mas caluniada, às vezes, por
pessoas que, excedendo-se nos seus repastos festivos, atribuem a perturbação gástrica,
decorrente dos excessos, à inocente carne da pobre ave. Mas é a sina de cada
um. Essa nobre ave, outrora qualificada, pela sua bravura, entre as aves heroicas,
assemelhadas a Meleagro, o herói do ciclo dos Argonautas, tendo o seu caráter
deturpado pela escravidão a que o egoísmo da espécie humana a submeteu, é hoje
simples símbolo da estupidez! Pobre galináceo!
Por: "SAPO"
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