A respeito da expressão "comer com os olhos"
Por: Luís da Câmara Cascudo
"Comer com os olhos" é olhar cobiçosamente os alimentos. Ter "olho pidão", faminto, insaciável; ficar com insistência. O povo concede aos olhos faculdades mágicas e também a transmissão de força magnética. Cobras e jacarés chocam os ovos com o olhar. Também os lacertílios, enfim todos os sáurios. Origina o Quebranto e o Mau-Olhar. A inveja é o olhar malfazejo, in-video. Olhar de seca-pimenteira, de azar, de mofina. Certos olhares absorvem a substância vital dos alimentos, deixando-os inúteis à nutrição. Soberanos negros da África Ocidental não consentiam testemunhas às suas refeições. Comiam ocultos e sozinhos. Os sertanejos acreditam que o olhar fincado no comer, tira a sustânça. Uma nossa empregada, em junho de 1954, enxotou o meu basset que mirava o jantar, aguardando a ração: “Saia daí Gibi, você está tirando as fôrças do meu comer!” Nos pejis dos candomblés, umbandas e xangôs, os orixás utilizam as oferendas pelo olhar. Havia em Roma uma modalidade do silicernium, festim fúnebre, oferecido aos Deuses Manes, durante o qual a família, cliente e amigos não tocavam nos alimentos, limitando-se a olhá-los em silêncio e fixamente. Quod eam silenter cernant, neque dequstant. Participavam do ágape com a intenção visual. Comiam com os olhos.
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